“Esse cachorro-quente deve está uma delicia”, pensei comigo mesmo, mas logo mudei de idéia quando vi o sorriso desdentado do tiozinho que os vendia. Pra ser um pouco mais detalhista - e ser detalhista é uma das minhas características marcante - pude contar em toda sua boca dois únicos dentes amarelados, ele é de fato o que poderíamos chamar de sorriso vazio, ri comigo mesmo e pensei “ganho pouco mais sou feliz”. Mordi o tão saboroso lanche com o ar suspeito, conclui que; Urubu na guerra é frango, porque a fome meus amigos, era grande.
Os dias em São Paulo andam muito quentes, e estar em plena Praça da Sé sob um calor de 35 graus, vestindo terno e gravata com certeza não é nada agradável, é amostra grátis do inferno.
Sem muito rodeio, me chamo Carlos Alfredo Neto Souza da Silva, meu nome é uma junção de interesses e indecisões de meus pais. A história se resume no seguinte, minha mãe sempre quis ter um filho menino e colocar o nome de Carlos, e do jeito que ela é geniosa nada iria tirar isso da cabeça dela. Já meu grande pai que Deus o tenha, prometeu para meu avô no leito de sua morte que se tivesse um filho homem iria colocar seu nome de Alfredo, ai virou o seguinte texto; Carlos Alfredo Neto Souza da Silva. Levando em consideração que meus pais são do nordeste e o pessoal de lá tem uma criatividade para nomes admirável, agradeço por não me chamar “Adegonesjoson”. Caso queiram simplificar as coisas, podem me chamar de “mastigado”, é assim que todos me chamam no meu trabalho. Querem saber o porquê que me chamam assim? Eu poderia muito bem nessa narrativa falar meias verdades, dizer que sou quase um irmão gêmeo do “Gianecchini”, no entanto a realidade é bem diferente disso. Nasci infelizmente desprovido de beleza, e por esse motivo dizem assim; “Orra cara! Tu é tão feio que parece que foi mastigado (gargalhadas e gargalhadas). Como bom estagiário que sou, faço cara de conteúdo e dou um sorriso forçado. Mas minha hora de rir sempre chega, cuspo no suco deles quando me pedem pra ir até a padaria e falo comigo mesmo; “Quem é o mastigado agora em?!”. Com tudo meus caros leitores gostaria muito que me chamassem apenas de Alfredo, gosto que me chamem assim, lembro de meu falecido pai.
No final das contas não sou nada além de mais um personagem desse cotidiano incrivelmente injusto e surpreende de nosso Brasil. Tentarei trazer pra vocês algumas narrativas de nossa realidade, como se fosse um diário, onde riremos juntos, choraremos juntos, comemoraremos juntos e com toda certeza vou passar muita raiva, digo isso por que sou casado e hoje já não mais acredito em vida após o casamento. Acreditem, minha mulher é um ditador enlouquecido pelo stress do cotidiano. Ontem cheguei em casa, disse “oi’’ e ela não respondeu, logo pensei “fodeu TPM!”tomei banho e fui jantar, e me perguntei; “Cadê a janta”, só que infelizmente pesei alto. Meus amigos não queiram ver aquela mulher de 95 quilos em plena TPM tendo uma crise de pelanca, começou perguntando se eu tinha empregada e mandando minha querida mãe – que num tinha nada a ver com a situação - fazer o jantar, e acabei no sofá duro e com fome, pensando “Como eu amo minha adorável futura ex-mulher” agradeci por não ter filhos com ela, isso torna as coisas tão fáceis.
Dormi conformado, com a barriga cheia de sonhos, sei que hoje sou um bosta, um nada, um zero a esquerda. Mas graças a Deus, tenho 25 anos de saúde, raramente tenho gripes, meu carro num vale nada, tenho um gol quadrado azul, ano 91, que parece um enfeite na garagem, faz 8 meses que não sai de lá, com meu salário de estagiário teria que juntar dinheiro durante um ano para concertar. Mais sei que os tempos irão mudar. Como diria um amigo meu “A esperança é que nem sogra, é ultima que morre”. Termino esse ano a faculdade de direito, abrirei meu próprio escritório e serei muito rico e bem sucedido. Hoje, após ter dormido no sofá duro, acordei com dor nas costas.
E estar em plena Praça da Sé sob um calor de 35 graus, vestindo terno e gravata com dor nas costas é tortura nazista, além do mais quando terei que ir a um fórum em Cotia quando eu moro em Itaquera. E ainda tenho que ouvir meu chefe dizer; “De lá pode ir direto pra sua casa” como se tivesse me fazendo um favor, quase digo “Posso ir pra casa da sua mãe?”, não, dessa vez não pensei alto.
Bom, agora vou pegar o metro, algumas conduções um cipó e duas canoas pra chegar nesse maldito fórum. Depois conto como foi chegar em casa moído e se deparar com a medusa virada no satanás. Se sobreviver a isso, juro que escrevo um livro.
Até.
Cont...
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